MPT-MG sediou o lançamento do livro “Plataformas Digitais e novas desigualdades socioespaciais”

No lançamento, houve apresentação e análise dos resultados da pesquisa realizada com verba destinada pelo MPT.

Belo Horizonte (MG) – O evento de lançamento do livro "Plataformas Digitais e novas desigualdades socioespaciais" e do boletim "Dirigindo para a Uber" ocorreu no último dia 10 de abril, no auditório da sede do Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais. Estiveram presentes a Procuradora do Trabalho Mariana Lamego de Magalhães Pinto, representando o Ministério Público do Trabalho (MPT); o autor do livro, coordenador do boletim e professor do Departamento de Geografia da UFMG, Fábio Tozi; os coautores do livro e colaboradores da pesquisa que gerou o boletim: Lussandra Martins Gianasi, Deise Luiza da Silva e Carlos D´Andréa, além do diretor do Instituto de Geociências da UFMG, Carlos Fernando Lobo e do professor do mesmo instituto, Fábio Soares de Oliveira.

 

Na abertura do evento, a procuradora Mariana destacou o relevante projeto de pesquisa realizado pela UFMG com apoio do MPT, além de caracterizar os resultados da pesquisa como "contribuintes para as transformações sociais no meio ambiente de trabalho, a causa principal da existência do MPT". Parabenizou o trabalho dos pesquisadores envolvidos, em especial o organizador Fábio Tozi.

O professor Fábio Tozi apresentou a pesquisa de campo realizada com 400 motoristas que prestam serviços para a empresa Uber em Belo Horizonte e região metropolitana. Inicialmente, destacou a metodologia inédita utilizada por sua equipe: uma enquete com uma série de perguntas respondidas pelos motoristas enquanto exerciam seu trabalho, já que esse encontro se dava após uma solicitação de viagem pelo aplicativo da Uber, em horários variados e pontos estratégicos definidos pelos organizadores.

A seguir, destacou os resultados e conclusões da pesquisa presentes no boletim "Dirigindo para a Uber", disponível para download online gratuito. Entre os dados mais chocantes revelados pela pesquisa estão: 72,6% dos entrevistados relataram trabalhar em todo final de semana; 58,3% informaram que fazem pausas na jornada de trabalho apenas quando seu corpo necessita, sendo que a média de horas semanais trabalhadas pelos motoristas da área pesquisada foi de 51 horas, 7 horas a mais do que a jornada de um trabalhador registrado na CLT.

Após um breve intervalo, foi composta uma mesa para a exposição informativa de dois capítulos do livro, igualmente disponível para download gratuito, pelos colaboradores Carlos D´Andréa e Deise Luiza da Silva.

O professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Carlos D´Andréa explicou a razão do título enigmático do capítulo por ele redigido: "Atravessando o 'Mar Vermelho' algorítmico: ubertubers e seus modos de conhecer o preço dinâmico da Uber". O motivo se dá pela busca dos motoristas da Uber pelo preço dinâmico, um aumento significativo dos preços das corridas em momentos específicos do dia ou áreas com grande demanda, representadas no aplicativo pela cor vermelha no mapa, ou seja, quanto mais avermelhado estiver o seu mapa, maior a chance de conseguir um bom preço para sua próxima corrida. Porém, o "Mar Vermelho" algorítmico prejudica o motorista, já que com base no trabalho realizado por Carlos e seu parceiro Abel Guerra, o preço dinâmico não é baseado em demanda em si, mas começa a ser calculado na simulação de demanda pelos próprios clientes. Sendo assim, nem sempre o motorista vai encontrar um preço alto pelas corridas quando chegar ao local marcado em vermelho.

A professora do Departamento de Ciências Administrativas da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Deise Luiza da Silva Ferraz, autora do capítulo "Sociedades do trabalho uberizado: o sonho do migrante permanece um pesadelo", expôs sua pesquisa sobre trabalhadores migrantes brasileiros que buscam melhores condições de trabalho em Lisboa, mas se deparam com uma acentuada precarização do trabalho e acabam acomodados pelo trabalho em plataforma como último refúgio. Como causas desse movimento de "uberização" do trabalho dos imigrantes, a professora citou o preconceito e a ilegalidade da sua presença no país.

A seguir, a discussão foi aberta aos participantes para perguntas e comentários. O momento de reflexão e embate de ideias foi frutífero, incitando os presentes a pensar sobre o futuro desse grande setor em ascensão na economia global e sobre as condições que devem ser observadas pelas empresas visando à garantia dos direitos dessa classe de trabalhadores.

 

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