Operação flagra terceirização irregular no Triângulo Mineiro
segunda-feira, 10 outubro 2011,12:59
Hoje, 139 trabalhadores do transporte de cana da Usina Uberaba terão seus contratos transferidos diretamente para a tomadora dos serviços. Na última semana, 134 trabalhadores tiveram suas carteiras assinadas, após serem flagrados trabalhando sem registro na colheita de cebolas, na cidade de Santa Juliana.
Hoje: 139 trabalhadores
terão suas carteiras assinadas
A equipe de fiscalização conta com 11 membros: dois procuradores do Ministério Público do Trabalho, 4 auditores fiscais do trabalho e 3 agentes da Polícia Rodoviária Federal.
Resultados da operação em usina de cana de açúcar: Os 139 trabalhadores do transporte de cana da Usina Uberaba estão tendo seus contratos transferidos diretamente para a tomadora dos serviços nesta segunda-feira, 10, conforme acordo entabulado por Victor Hugo Cabral, do MTE e firmado com o MPT na última sexta feira, 7.
“Eles prestavam serviços por meio de pessoas jurídicas sem capacidade econômica e de gestão, Por isso, até os proprietários dessas pequenas empresas estão tendo suas carteiras assinadas”, explica a Procuradora do Trabalho, Elaine Nassif. “Eles constituíram pessoa jurídica para prestar serviços de transporte para a Usina, mediante garantia verbal de trabalho até o final do pagamento dos caminhões utilizados no transporte. Esses pequenos empresários chegavam a passar meses sem retirada de pro labore suficiente para manutenção de seu próprio sustento.”
Cada caminhão financiado custa em média 300 mil reais, com prestações mensais acima de 7 mil reais, equivalente a cerca de 38% do faturamento, que somados aos impostos, folha de pagamento, diesel e manutenção dos caminhões, consumiam todo o faturamento mensal.
Para Eliaquim, “a Usina transfere todos os riscos do transporte da cana para pessoas jurídicas inidôneas economicamente, além de ficar livre das despesas com empregados e manutenção, aumentadas com a ganância em transportar mais cana de uma vez só”.
A Polícia Rodoviária Federal auxiliou na constatação da irregularidade. Por permitir que os caminhões transitarem fora das especificações para as quais foram projetados, arriscando a vida dos trabalhadores e de quem estiver perto na eventualidade de um acidente, o Ministério do Trabalho autuou a Usina nos termos da NR-31. “Foi a primeira vez que esta irregularidade deu origem a auto de infração e esperamos que cumpra o efeito pedagógico esperado”, ressaltou Queiroz, que desenvolve um programa para combater esta irregularidade nas 22 Usinas SucroAlcooleiras do Triängulo Mineiro.
Em audiência pública realizada com os terceirizados na sede da empresa, Victor Hugo Cabral, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego verificou que os trabalhadores estavam sendo prejudicados porque as terceiras estavam seguindo a convenção coletiva de Uberlândia, cujo piso salarial é inferior à de Uberaba em duzentos reais. Cabral explicou que “seguir a convenção coletiva do local da prestação dos serviços é importante para evitar que funções idênticas sejam remuneradas de forma desigual”.
Cabral também orientou sobre as horas extras. “Os terceirizados do transporte trabalham em jornada de 12 horas durante 6 dias na semana e descansam apenas um, perfazendo 72 horas, quando os empregados diretos trabalham 7 horas e 20 minutos por dia. Há um enorme passivo de horas extras sendo gerado semanalmente.
A Usina também providenciou iluminamento nos caminhões e tratores para o trabalho noturno. Para Amador Dias da Silva, auditor fiscal que coordenou a operação, “o conforto visual é importante para a prevenção de acidente”.
A equipe de fiscalização conseguiu ainda na semana passada, que a Usina Uberaba fizesse o depósito de R$ 22.000,00, relativo ao adicional noturno para os trabalhadores da colheita mecanizada com jornada noturna. O adicional não vinha sendo pago.
Operação em lavouras de cebola – A operação fiscal conjunta conseguiu fazer também com que a Fazenda São José assinasse carteira dos 134 trabalhadores flagrados sem registro na colheita da cebola. O proprietário assinou termo aditivo ao TAC que já tinha sido firmado na PTM de Patos de Minas, cuja desobediência também foi constatada e que poderá gerar uma multa de R$2.136.000,00.
Esses trabalhadores foram flagrados pelos órgãos fiscalizadores graças a informação obtida de um trabalhador que recorreu ao sindicato para reclamar. Esses trabalhadores são recrutados todos os anos por turmeiros na pequena Santa Juliana, verdadeira cidade dormitório dos trabalhadores do campo, boa parte imigrantes de outros estados da federação, como Maranhão, Ceará e São Paulo, que alugam casas em Santa Juliana para trabalharem nas diversas lavouras da região. A turmeira Tatiane é conhecida de todos e ganha um percentual sobre os sacos coletados. Tatiane levou dois ônibus de trabalhadores. Cada turma rende para ela cem reais por dia. Com duas turmas ela esperava fazer duzentos por dia, ganhando em 15 dias, cerca de R$ 1.000,00. A agenciadora de mão de obra disse que não queria trabalhar com carteira assinada, mas ao mesmo tempo não sabe o que vai ser dela se adoecer ou não puder agenciar mão de obra, pois sequer recolhe para a previdência. Tatiane também foi contratada pela Fazenda durante a ação fiscal.
Operação em lavouras de batatas: A lavoura da batata também foi fiscalizada, culminando na lavração de autos pelos auditores Ronaldo Ramos e Geraldo, e propositura de TAC`s por descumprimento da NR 31. Em todas as lavouras visitadas: cana, cebola e batata, não havia área de convivência, proteção contra intempéries, água potável, sanitários, local para acondicionamento correto da alimentação levada pelos empregados, fornecimento gratuito de EPIs e ferramentas para o trabalho. Na lavoura da cebola, exemplifica Ronaldo, auditor fiscal “os trabalhadores enfiavam um bag na cabeça (foto) fazendo as vezes de sanitário e compravam limas, luvas e tesouras com dinheiro do próprio bolso para executar o trabalho”.
Em setembro também foi realizada operação conjunta na região de Frutal, também no Triângulo. Para os agentes públicos que trabalharam nesta (foto) e na operação conjunta anterior, a melhoria das condições de trabalho no campo é notável relativamente à situação que existia em 2004, quando as operações conjuntas começaram, pois já não se pode falar mais em trabalho escravo e sim em ajustes nas condições laborais.