Lançamento do livro Mar de Lama lembra dor e luta dos atingidos por rompimento de barragem
Etnografia fotográfica tenta retratar vidas suspensas e o desastre em curso
Dor, luta e esperança. Para os organizadores da obra Mar de Lama da Samarco na Bacia do Rio Doce: em busca de respostas, essas palavras simbolizam tanto os episódios de rompimento de barragens no estado quanto o livro, lançado nesta segunda-feira, 25 de março, na Faculdade de Medicina da UFMG. A coletânea de artigos busca analisar e registrar os crimes humano e ambiental ocorridos em Mariana (MG), há 3 anos, e a repetição deles em Brumadinho.
Ao dar início ao lançamento, os diretores da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da UFMG, professores Humberto José Alves e Andrea Maria Silveira reforçaram a importância da presença da comunidade acadêmica no evento e na produção das reflexões que estão no livro. "Discutir esses crimes é como discutir o holocausto: é triste, mas precisa ser feito. É uma forma de lutar para que não aconteça mais", afirmou Andrea.
Autores dos capítulos também estiveram presentes no evento. Dentre eles, a assessora de comunicação do Ministério Público do Trabalho, Lília Gomes Ferreira, responsável pelo capítulo No Curso da Lama. Ela conta que tentou construir uma etnografia fotográfica sobre o desastre.
"Para produzir uma etnografia, normalmente vamos a campo construir uma narrativa de pessoas vivendo em um espaço temporal, físico e social", explica Lília. E continua: "lamentavelmente, no caso do rompimento da barragem de Mariana, foi necessário construir uma narrativa da morte. Da morte e suas mais diversificadas possibilidades: ambiental, de seres vivos diversos, o apagamento de subjetividades... Essa etnografia, junto com os artigos do livro, busca contribuir para que isso tudo não caia no esquecimento coletivo".
Quanto à busca por respostas, anunciada no título do livro, o professor aposentado do Departamento de Pediatria da Faculdade e um dos organizadores da obra, Eugênio Marcos Andrade, enfatizou a importância de se analisar o trágico. "É preciso olhar desde a prevenção e suas falhas até os impactos. E isso não consegue ser feito só pela ciência. Por isso, no livro, ela se soma à visão dos atingidos", destaca o professor em menção a autores como os do Movimento dos Atingidos por Barragens.
Ainda segundo Eugênio, o livro também traz contribuições ao pressionar para que rompimentos de barragens não se repitam mais. "Mar de lama nunca mais! Isso pode ser um sonho? Então que a realidade seja, pelo menos, de verdadeira responsabilidade na mineração no estado e no país", conclui.
O livro Mar de Lama da Samarco na Bacia do Rio Doce: em busca de respostas está disponível para download gratuito.
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Fonte: Faculdade de Medicina da UFMG