Prática esportiva desperta hábitos saudáveis e pode ser aliada para combate ao trabalho infantil

Crianças, pais e profissionais destacam benefícios de projeto que atende menores na Grande BH

Companheirismo, disciplina, perseverança e respeito ao próximo são alguns dos valores e hábitos destacados por crianças, adolescentes e professores que participam do Projeto Escola Social, que é resultado de um acordo entre Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o América Futebol Clube. O projeto assegura a oferta aulas de futebol a menores em situação de vulnerabilidade social e visa reforçar ações de prevenção e de combate ao trabalho infantil na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

As aulas em uma unidade do clube no município de Ribeirão das Neves começaram no fim de agosto, com 45 crianças e, conforme relatos dos próprios alunos e responsáveis, os benefícios já podem ser observados e vão muito além do desempenho esportiva. "Notei melhoria na escola, as notas dele estavam ruins. Eu expliquei que para ele estar aqui tinha que melhorar o rendimento nos estudos. Ele melhorou também o comportamento em casa, está mais calmo, menos agitado. É o único filho, né? Aqui ele tem contato também com crianças da idade dele", comentou Josiane de Souza ao se referir às mudanças observadas no filho, a partir do início do projeto. Além de treinar com os demais alunos, o filho de Josiane disse que as aulas na escolinha de futebol são uma oportunidade para brincar e se divertir com as outras crianças do projeto. "O mais importante para mim é ter respeito pelos meus colegas", destacou.

Cauã Dias da Silva tem 10 anos. Ele contou que treinava em outra escolinha antes do América, porém ele foi obrigado a interromper as atividades em virtude das dificuldades financeiras enfrentadas pela mãe dele. O garoto foi encaminhado ao projeto por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município de Neves e, perguntado sobre o que ele mais gosta na escolinha, Cauã respondeu: "Gosto de tudo". O menino revelou ainda que começou desenvolver hábitos alimentares mais saudáveis. "Eu passei a comer mais fruta. À tarde, no almoço, e de manhã, antes de ir para a escola".

Os treinos na escolinha despertaram em Pablo de Assis, de 11 anos, o gosto pelas aulas de educação física na escola. "Agora, eu não falto mais", contou, sorridente, o aluno, que lembrou também que o projeto o auxiliou a ter mais compromisso com as tarefas escolares.

Além do esporte - Os profissionais de educação física Igor Moniz e Humberto Lima são responsáveis pelas aulas das crianças às segundas e quartas-feiras, das 16h às 17h. Para eles, o mais importante no projeto é a oportunidade de oferecer atividade esportiva como instrumento de formação cidadã das crianças, ensinando-as a ter respeito pelas regras. "Há crianças aqui que até então não tinham contato com esporte, com a atividade física. A gente traz o aluno para cá com a expectativa que ele tenha contato com as outras crianças e com esporte para o seu desenvolvimento", acrescentaram.

A coordenadora do projeto, Andressa Carvalho de Souza, corrobora o ponto de vista dos treinadores e lembra também que a prática esportiva pode ser uma aliada para o fortalecimento de princípios humanos. "Acredito que é uma ótima oportunidade para os beneficiários contemplados em relação à aquisição de valores e conceitos. Dentre eles, estão o respeito, igualdade, a disciplina, saber perder e ganhar. Os alunos podem levar isso para toda a vida".

Andressa Carvalho de Souza enalteceu o interesse das crianças e de seus respectivos responsáveis pelo projeto, destacando a frequência expressiva dos alunos nas atividades desenvolvidas, além do bom comportamento dos meninos. "Os pais diversas vezes nos relataram agradecidos pela oportunidade e o privilégio de as crianças poderem ter a vivência no clube".

Como funciona - Com duração até julho de 2024, o projeto disponibiliza 250 vagas no total. Uma criança que entrou recentemente poderá, caso queira, permanecer por até cinco anos e as vagas de eventuais desistentes podem ser preenchidas por novos alunos ao longo desse período.

Além de ministrar as aulas nas escolinhas do clube, o América assumiu as despesas de locomoção, uniformes e lanches dos beneficiados, conforme prevê o acordo, assinado em junho deste ano. Os alunos têm acesso à infraestrutura, bem como à assistência e monitoramento de profissionais especializados.

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