Afro Presença abre trabalhos com capacitações e mesas de debate
Evento virtual contou com a participação de procuradoras do MPT, representantes do movimento negro, pesquisadores e integrantes do Legislativo
Brasília (DF) – "Nós acreditamos no Afro Presença. A luta contra o racismo é uma luta de continuidade. Ela tem uma forte marca na disputa e na luta de ideias. E aqui são semeadas boas ideias". As palavras foram proferidas nesta quinta-feira (9) por Edson França, negro e presidente nacional da União de Negros e Negras pela Igualdade, durante a mesa de abertura de evento Afro Presença 2023.
Promovido anualmente pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com entidades do movimento negro, o evento tem como objetivo discutir e promover a inclusão de negras e negros no mercado de trabalho, por meio de capacitações, debates e divulgação de oportunidades de trabalho, entre elas vagas afirmativas. A iniciativa surgiu através do Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negras e Negros Universitários no Mercado de Trabalho, promovido pelo MPT. Virtual e gratuito, o Afro Presença está sendo transmitido no canal TVMPT do Youtube, entre os dias 8 e 10 de dezembro.
França enfatizou em sua fala que, apesar dos bons resultados das políticas afirmativas educacionais – as cotas raciais – há ainda dificuldades para a inserção desses jovens negros e negras no mercado de trabalho, o que torna inciativas deste tipo essenciais à efetiva inclusão. "Focar nesses jovens que se formam, buscar oportunidade para eles, é falar 'sim' a uma ação afirmativa que tem dado certo aqui no Brasil e que tem construído uma sociedade mais inclusiva objetivamente. Então eu estou entre as pessoas entusiastas do que tem acontecido aqui no Afro Presença. Eu tenho absoluta certeza de que marcaremos história nas ações afirmativas aqui no Brasil".
A coordenadora de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do MPT, Danielle Olivares, também compôs a mesa de abertura e reforçou a importância busca pela igualdade racial no trabalho. "A sociedade em que vivemos é plural e diversa. Essa é nossa maior riqueza, que traz cores e contornos próprios, perspectivas e experiências distintas. O ambiente empresarial deve refletir essa mesma sociedade em que está inserido, com pluralidade, respeito e tolerância, promovendo a inclusão de fato e rompendo padrões que reforçam o racismo, que excluem e que segregam", declarou a procuradora do Trabalho.
Também participou da abertura a vice-procuradora-geral do Trabalho, Maria Aparecida Gugel, que destacou o alinhamento do evento com os princípios norteadores da atuação do MPT na busca pela igualdade no mundo do trabalho. "Neste espaço que, sobretudo, é dedicado à conscientização para o acesso regular à informação, à justiça e aos direitos trabalhistas, é que fazemos mais uma vez história com o Afro Presença. Esse evento condiz, claro, com o comprometimento do Ministério Público do Trabalho no enfrentamento às desigualdades, à discriminação e à exclusão que muitas vezes afetam as pessoas negras em seus ambientes profissionais".
O Afro Presença, além de contar com 21 mesas buscando a visibilidade e o debate do tema, também contribui com a inclusão direta de pessoas no mercado de trabalho por meio de capacitações para negras e negros e da divulgação de oportunidades de emprego para este público. Assim como nas edições anteriores, o Afro Presença conta com a contribuição maiores empresas de RH do Brasil como a 99Jobs, o CIEE, a Eureka, a Cia de Talentos, a Cia de Estágios, a EmpregueAfro e a Empodera.
"É uma marca do Afro Presença capacitar profissionais e encaminhá-los ao mercado de trabalho. Então nós temos no nosso website um mural de vagas com milhares de oportunidades, inclusive vagas afirmativas. E realizamos também a conscientização sobre a importância de reservar oportunidades, incluir e valorizar talentos negros, que é o tema do Afro Presença 2023", explicou a procuradora do Trabalho, idealizadora e coordenadora do evento, Valdirene de Assis, durante a mesa de abertura. O mural de vagas de emprego já está disponível no site do evento.
As capacitações são outra forma de promover a inclusão e foram ministradas nesta quarta-feira (8), na modalidade EaD, mediante inscrição prévia dos interessados. O objetivo foi capacitar profissionais negras e negros para disputarem o mercado de trabalho e transporem suas barreiras atuais. Foram abordadas nas exposições os temas "Liderança Afrocentrada: Transformando suas habilidades em ferramentas de Impacto na Carreira", "MundoTech: Como usar as tecnologias a favor da sua carreira?", "Segurança Psicológica e Saúde Mental: Cuidado como Hábito", "Você têm potencial: Suas habilidades além do currículo", "A inteligência Emocional preta como estratégia de afirmação social" e "Gestão de carreira: Mentalidade de pertencimento, confiança e crescimento".
Mesas – As mesas de debate tiveram início na manhã desta quinta-feira (9), abordando temas caros à inclusão de negras e negros no mercado de trabalho. Entre os temas discutidos estiveram a criação de departamentos de recursos humanos antirracistas, atuação de organismos internacionais e aplicação da Convenção Interamericana Contra o Racismo no Brasil, o combate a fraudes nas políticas de cotas raciais, bem como políticas de permanência, igualdade racial e o parlamento brasileiro, entre outras temáticas.
Para discutir este último tema, o evento contou com a participação da deputada Dandara Tonantzin, que enfatizou a batalha travada no Congresso para a renovação das cotas raciais. "Foi muito duro. Muito duro, de muita violência, muito desgastante", declarou. "Quando eu fui assumir essa relatoria, o primeiro grande desafio foi ela ser designada a mim, porque setores conservadores disputavam a relatoria". Ela conta que, após a aprovação na Câmara, a batalha seguiu dura no Senado. "Então nós já começamos em seguida a atuar com o senador Paim, bater de porta em porta, de gabinete em gabinete, pra convencer os senadores da importância e conseguimos em menos de três meses já aprovar no Senado".
O senador Paulo Paim também contribuiu com este tema no evento, e falou sobre a falta de representatividade negra no parlamento. "Por exemplo, quando foi para discutir a política de cotas no Supremo, eles queriam um senador negro e um branco. E por que eu fui escolhido? Só tinha eu de negro. Não é porque eu sou feio ou bonito. Tem que ser o Paim, porque é o único negro que tem no Senado. Eu fui escolhido devido a isso. De lá para cá, tivemos um pequeno avanço, mas muito pequeno, tanto na Câmara, quanto no Senado. Na Câmara avançou um pouco ainda, mas avançou muito pouco no Senado".
O Afro Presença segue com suas atividades nesta sexta-feira (10), com mais mesas de debate, e será encerrado com o show da banda Pretas & Pretos, formado por professores e funcionários do Instituto Anelo, localizado em Campinas (SP).