Trabalho formal para "fazedeiras" de cigarro de palha foi assunto de nova audiência pública no MPT em Minas

A região de Pirapora concentra grande número de empresas do setor

Belo Horizonte (MG) - A informalidade na produção de cigarro de palha em Minas Gerais é objeto de um Projeto Estratégico Regional do Ministério Público do Trabalho. Há dois anos, foi iniciado um trabalho de diálogo social com empresas, trabalhadores e população local dos municípios onde existe a produção, a fim de viabilizar a regularização do trabalho na cadeia produtiva, principalmente em relação aos trabalhadores que "enrolam" os cigarros de palha, que historicamente laboram em condições de completa informalidade e desproteção social.

Nesta terça-feira, 7, empresários do setor apresentaram novas informações ao MPT, em audiência pública, no sentido de que os procedimentos de formalização estão sendo realizados gradualmente, seja mediante contratação como empregadas das "fazedeiras", seja pela prestação dos serviços como autônomas, com o devido recolhimento previdenciário.

"Prática naturalizada no setor, a informalidade é antiga e, durante investigação feita em 2020, apuramos que envolvia, à época, cerca de 4 mil pessoas, em sua maioria mulheres, que faziam o trabalho de enrolar os cigarros em suas próprias casas, em geral para mais de uma empresa, sempre sob demanda das contratantes e sem nenhum vínculo, o que significa dizer que estavam à margem de todas as formas de proteção social do trabalho, sem acesso a direitos do contrato formal: como aposentadoria, afastamentos, 13º salário, dentre outros", explica a procuradora do Trabalho Elaine Nassif que esteve pessoalmente investigando os processos produtivos nas empresas da região de Pirapora em 2020.

Essa foi a terceira audiência pública convocada pelo MPT para acompanhar a evolução da formalização de contratos de trabalho no setor. Além das procuradoras e procuradores do MPT que compõem o Grupo de Atuação Especial Trabalhista (GAET) da Procuradoria Regional do Trabalho da 3ª Região, estiveram presentes representantes de empresas e de órgãos públicos como o INSS, Receita Federal, assistência social de Belo Horizonte, e da Mineira de Produtores de Cigarros de Palha (Amicipa).

De acordo com os procuradores do MPT, são diversas as especificidades presentes no processo produtivo, a mais enfatizada pelas empresas é a de que a maioria das trabalhadoras são mães de família que conciliam o trabalho com os cuidados com filhos e a casa. "De fato, entendemos que uma modificação da realidade do setor para buscar a devida proteção às trabalhadoras e trabalhadores passa também por uma mudança cultural, que precisa ser gradual, pela conscientização de todos os envolvidos sobre os direitos sociais, a função social da empresa e a importância da atividade para a economia local, daí a opção pelo diálogo coletivo por meio de audiências públicas", explicam os membros do GAET/PRT3.

"Com a primeira notificação orientamos os empregadores a dar o primeiro passo, que seria o recolhimento previdenciário. Neste segundo momento, as empresas que já tiveram prazo concedido para regularização devem manter apenas a prestação de serviços formalizada, conforme as circunstâncias do trabalho realizado e a legislação aplicável. Embora a gênese desse procedimento tenha sido o diálogo social, a permanência da situação irregular poderá desencadear atuação repressiva do MPT. As providencias precisam ser intensificadas porque os números ainda estão bem abaixo da realidade do setor", enfatizou o procurador do Trabalho Fabrício Borela.

Os representantes das empresas Yannkee Fabricação e Comércio de Cigarros e Porto Faria Ltda comunicaram os resultados do processo de formalização. "Hoje dobrou o número de mulheres formalizadas. O projeto tem nos exigido trabalho de corpo a corpo, diálogo, para sensibilizar as mulheres sobre a necessidade de formalização. Estamos com 30 profissionais formalizadas, recolhendo como autônomo individual", relatou o representante da Yannkee. "Tínhamos 90 avulsas e agora estamos com 50 formalizadas, porém estamos percebendo que a rotatividade está alta, algumas começam e logo desistem", disse o representante da Porto Faria.

De acordo com os integrantes do GAET/PRT3, existem algumas modalidades de trabalho formal que podem ser usadas para a contratação dessas pessoas, ou seja, as empresas não precisam ficar restritas ao modelo mais comum que é a jornada presencial. Opções como o contrato a tempo parcial, trabalho em domicílio, com remuneração por produção ou tarefa, assim como o trabalho intermitente, são alternativas que podem ser analisadas pelas empresas.

Além da questão da formalização dos vínculos, o projeto do MPT/MG também quer viabilizar a melhoria do meio ambiente de trabalho das "fazedeiras", especialmente com medidas de proteção e controle contra os riscos da atividade e adequação das condições ergonômicas. Para tanto, um estudo técnico está sendo realizado pela Amicipa para apresentar soluções para a temática.

Ficou também indicada na audiência a possibilidade de realização de encontros de educação previdenciária nas cidades onde há maior concentração de empresas produtoras de cigarro de palha, a fim de fornecer maior entendimento aos trabalhadores sobre os diversos benefícios disponíveis no INSS e as vantagens do trabalho formal. O representante do INSS, Luciomar de Melo, explicou brevemente sobre cada benefício, as possibilidades de sobreposição, casos de perda por acúmulo e colocou a equipe técnica do INSS à disposição para ministrar as capacitações que forem solicitadas.

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