Quantas vidas o trabalho escravo abortou?

Em ato público hoje em BH a necessidade da erradicação do trabalho escravo foi enfatizada

Belo Horizonte (MG) - Segundo dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas mais de 63 mil pessoas foram resgatadas dessa situação no Brasil, nos últimos 30 anos. Em Minas Gerais foram mais de 7 mil. Esses são somente os casos investigados, fora dessa conta estão todos os outros que não foram denunciados. Essa realidade que precisa ser erradicada da vida civilizada ganhou visibilidade especial em diversos atos públicos e eventos, no Brasil inteiro.

Em Belo Horizonte, o Ministério Público do Trabalho participou do ato realizado pelo Tribunal Regional do Trabalho, que reuniu cerca de 70 pessoas, entre juízes, procuradores, advogados, parlamentares e representantes de organizações da sociedade civil.

Como tantos milhares de brasileiros, quem viu sua vida passar pela lente da escravidão moderna foi a Maria, uma das muitas histórias de vida marcantes que o procurador do Trabalho Mateus Biondi se recorda de ter investigado em 2024: "Aos 13 anos ela começou a trabalhar em uma casa de família sem salários, sem carteira assinada, em condição degradante, sem relacionamento com família e amigos. Ela só descobriu que era uma vítima do trabalho escravo aos 75 anos, quando o seu caso foi denunciado e ela foi resgatada durante uma operação de fiscalização. A alegria de poder retirar pessoas dessa situação se mistura com a tristeza ver uma vida consumida pelo trabalho escravo", lamenta o procurador. 

A história da Maria é a mesma de muitos Josés, Joaquins, Antônios... todos brasileiros que vivem sem acesso aos direitos fundamentais mínimos para uma vida com dignidade, assegurados pela Constituição Federal. "A gente sabe de propriedades onde resgates de trabalho escravo são feitos há três gerações: o avô foi resgatado, o pai, o filho na mesma fazenda. Precisamos romper isso responsabilizando os donos dessas terras. Não dá para tomar café caro, sabendo que esse café vem também de mãos escravas. É preciso responsabilidade social ao comprar um produto, dizer não ao que vem de mão de obra escrava", enfatizou a deputada Andréia de Jesus durante o ato.

O desembargador do trabalho Sebastião Geraldo de Oliveira enfatizou: "devemos dar sempre um grito de indignação, estamos presentes não aceitamos. O judiciário sempre será uma voz firme e lutadora para fazer valer o direito daqueles que precisam sair de casa para ganha a vida. O local de trabalho é local para ganhar a vida, não para encontrar a morte, doenças ou mutilações.

O ato público foi uma iniciativa do Comitê Regional do Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, ao Tráfico de Pessoas e de Proteção ao Trabalho do Migrante do TRT-MG, coordenado pelas gestoras regionais desembargadora Paula Oliveira Cantelli e juíza Adriana Campos de Souza Freire Pimenta que apresentaram a agenda de atividades para 2025 durante o ato.

 

 

 

 

 

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