As marcas que o tempo não apaga na vida de quem foi vítima de trabalho infantil

Live "Protagonismo Juvenil" revela a força e a determinação de três jovens que superaram o trabalho infantil

Histórias de vida que se entrelaçam. Relatos de jovens que vivenciaram o trabalho infantil, superaram o problema e já alcançaram importantes conquistas deram o tom à live "Trabalho infantil e o protagonismo juvenil: criança e adolescente fora da exploração", transmitida na quinta-feira, 11. A live integra uma série de atividades da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Infantil em Minas Gerais. Até o início de julho, outras três lives serão realizadas abordando o assunto a partir de diferentes perspectivas.

Lucas Magalhães é aprendiz na Associação Profissionalizante do Menor/Assprom, em Belo Horizonte. O adolescente contou que teve grande parte de infância prejudicada pelo trabalho nas ruas. Logo aos 6 anos, ele viu a necessidade de sair às ruas em busca de sustento próprio e de recurso mínimo que pudesse ajudar com as despesas de casa. Lucas trabalhou como flanelinha em um bairro da região Centro-Sul da capital, das 20h às 3h, se arriscando em meio à violência urbana. "Catava latinha, carregava sacola, montava barraca em feira e pedia dinheiro na rua para colocar comida em casa", disse.

Uma das consequências do trabalho infantil é o comprometimento do rendimento escolar. E foi o caso do Lucas, que repetiu a 3ª série do Ensino Fundamental e teve que abandonar os estudos por dois anos em decorrência do trabalho. "Você vê outras crianças brincando. Você quer brincar também, só que, se você não trabalhar, vai ficar com fome. Isso me marcou muito", lembrou o jovem. Longe do trabalho proibido, o aprendiz Lucas Magalhães sonha em continuar escrevendo poesias.

"Minha mãe percebeu o meu cansaço, alinhado com as minhas notas baixas na escola, e não permitiu que eu exercesse mais esse tipo de atividade. Desde então, eu me dediquei aos estudos", relatou a aprendiz na Rede Cidadã, Camila Alcione, que na adolescência exerceu diferentes atividades para conseguir uma renda mínima necessária no sustento da família. "Fui vítima do trabalho infantil. Eu vendia salgado e doce na rua e trabalhei como acompanhante de idosos". Graduanda em psicologia, a jovem vê na educação um instrumento primordial para superação da pobreza. "As crianças precisam ser livres para estudar e ter contato com professores e livros", observou.

O aprendiz no Centro Educativo Virgílio Resi/Ceduc Luiz Henrique Soares Silva, de 18 anos, também contou sua experiência com o trabalho infantil. A situação financeira crítica em que se encontrava a família fez com ele, aos nove anos, procurasse renda no trabalho nas ruas. Ele teve que conciliar a rotina entre a venda de salgado e a escola, onde fazia a principal refeição do dia. "Minha mãe, doméstica, recebia muito pouco e estava ficando difícil para ela sustentar a casa. Durante muito tempo, a gente só tinha pão para comer", lembrou.

Além de comercializar salgados, o jovem fez carreto de entulho em bota-fora, atividade que exigia dele muito esforço físico, o que provocou lesão nos joelhos e dores nas costas. "Eu não tinha ciência do quanto era explorado. Eu pensava que era uma coisa natural". Trabalhando nas ruas, viu amigos serem aliciados pelo tráfico de drogas.

Hoje, Luiz Henrique é estudante de direito e sonha em poder ajudar crianças exploradas. "Se deixarmos que as coisas aconteçam sem que a gente interfira, vamos alimentar uma sociedade com pessoas prejudicadas que vão ocupar subempregos".

Mediador da live, o pedagogo Cristiano Paulo dos Santos, da Associação Amigos da Educação (Amici), também foi vítima do trabalho infantil, que afetou os seus estudos, principalmente no Ensino Fundamental. Cristiano ressaltou também o papel fundamental da educação como caminho mais efetivo para o enfrentamento do trabalho infantil.

Todas as lives da Campanha de Combate ao Trabalho Infantil em Minas Gerais serão transmitidas pelo canal do Tribunal Regional do Trabalho de Minas no YouTube e na página do órgão no Facebook e ficarão gravadas.

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