"Mídia e trabalho Infantil" pauta o debate em live da Campanha de Combate ao Trabalho Infantil

Belo Horizonte - Qual é o papel da mídia no combate ao trabalho infantil? Na última quarta-feira (10), esse foi o tema de uma das cinco lives que fazem parte da programação da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, uma iniciativa unificada de diversas entidades públicas e privadas. O debate teve como convidados jornalistas que atuam na mídia de Belo Horizonte e do interior e estão envolvidos com o tema. Esses profissionais da comunicação apresentaram diferentes pontos de vista que contribuíram para ampliar a discussão a respeito dos impactos do trabalho infantil.

Abrindo os debates, uma das mediadoras do debate, a assessora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho de Minas (TRT-MG) Adriana Spinelli, trouxe importantes dados sobre o assunto: no Brasil, 2,4 milhões de crianças e adolescentes ainda são vítimas desse tipo de exploração, destacando a subnotificação existente. Lembrou ainda que, dentre os estados, Minas Gerais ocupa o 7º lugar no número de casos registrados.

Em sua fala, a assessora de comunicação do MPT em Minas, Lília Gomes, que também mediou o debate, pontuou que o enfrentamento do trabalho infantil deve envolver diversos setores da sociedade e destacou a necessidade de não apenas reduzir os números de vítimas, mas também de erradicar o problema. "Para nós que compomos a rede de proteção, essa pauta é sempre atual e pungente até que consigamos erradicar o trabalho infantil do nosso país", afirmou.

O trabalho protegido, autorizado a partir dos 14 anos, também foi citado pela jornalista, que enfatizou a necessidade de as empresas investirem em programas de aprendizagem profissional como forma de inserção de jovens no mercado de trabalho. "Acredito que essa questão deve ser muito evidenciada durante a campanha: criança não trabalha! Adolescente, a partir dos 14, trabalha, desde que dentro de um programa de aprendizagem"

O jornalista Júnior Moreira, da Rádio Itatiaia, abordou o tema a partir de elaboração de pautas direcionadas à mídia, bem como o desafio de informar a população sobre o problema em meio a tantos outros assuntos do cotidiano. Nesse sentido, o radialista destacou a importância de qualificar a informação que parte de órgãos públicos e entidades e que chegam às redações, já que há uma série de questões em jogo no momento da seleção do conteúdo. "A gente precisa pensar também um pouco em como vender isso para o jornalista, como fazer com que ele trate desse assunto em meio a tantos outros. Não é uma tarefa difícil, se trata de uma questão de estratégia em pensar como entregar dados para essas pessoas trabalharem", declarou.

A partir de suas vivências profissionais no relato de denúncias de trabalho infantil no Norte de Minas, o jornalista do Jornal Estado de Minas Luiz Ribeiro apontou a existência de outras vulnerabilidades vinculadas ao trabalho infantil, destacando o poder que a mídia tem de provocar mudanças na realidade social.

A Covid-19 e seus impactos sobre o trabalho infantil foram lembrados pelo jornalista, que alertou sobre a possibilidade do aumento de casos da de exploração da mão de obras de crianças entre 5 e 17 anos. "É preciso conscientizar as pessoas de que se a criança não está escola, ela deve aproveitar o momento para outras atividades lúdicas, coisas de adolescentes, coisas de crianças, não para o trabalho", ressaltou.

Na avaliação do jornalista especializado em investigação de cadeias produtivas Marques Casara, o trabalho infantil deve ser tratado de maneira sistêmica. "Aonde tem trabalho infantil, é possível encontrar outras violações. E, muitas vezes, existe um agente financiador oculto. São os elos de responsabilização que terminam em grandes empresas que se protegem atrás de atravessadores ou de outras empresas que, de fato, financiam o fenômeno", observa. O jornalista destacou ainda que, além dos veículos tradicionais de comunicação, existem outros meios importantes que podem ser protagonistas na divulgação das informações.

Ao longo do debate, os jornalistas também trouxeram suas percepções sobre a dificuldade de emplacar a pauta do trabalho infantil doméstico em razão da naturalização do problema imposta pela sociedade. "Nós todos estamos levando muito pela normatização e a gente vai achando normal. Não pode acontecer", alerta a assessora de imprensa do TRT.

Todas as lives da Campanha de Combate ao Trabalho Infantil em Minas Gerais serão transmitidas pelo canal do Tribunal Regional do Trabalho de Minas no YouTube e na página do órgão no Facebook e ficarão gravadas.

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